Shopping vira UTI improvisada em resgate de bebês após incêndio em maternidade de Fortaleza
Incêndio em maternidade: moradores, comerciantes e equipes de saúde criaram rota para salvar bebês.
Um incêndio em uma maternidade em Fortaleza, na quinta-feira (13), forçou uma evacuação dramática de mais de cem bebês. Em uma corrida contra o tempo, médicos, enfermeiros e moradores se uniram para retirar os recém-nascidos, muitos deles em incubadoras, em meio à fumaça.
O fogo começou às 10h50 da manhã em uma subestação de energia elétrica nos fundos do Hospital Estadual Doutor César Cals, referência em gestantes e bebês de risco. A energia caiu e a fumaça tomou conta dos corredores. No centro cirúrgico, um bebê precisou nascer à luz de celulares.
Lívia Magalhães de Lima, mãe de um bebê de quatro dias, descreveu o pânico. “A fumaça estava entrando todinha na sala, a sala estava cinza, uma escuridão medonha”. Ela relatou que o calor estava intenso e que "tinha neném já quase passando mal" por causa disso.
A equipe médica agiu rápido. As alas de cuidado intensivo ficavam próximas ao foco do incêndio. Segundo a enfermeira neonatologista Emanuelly Oliveira, a equipe correu primeiro para os bebês mais sensíveis, que usavam respiradores. “Ninguém combinou nada, mas todo mundo já foi ficando em seu local, entende?”, disse.
Do lado de fora, o caos foi recebido com solidariedade. Moradores e comerciantes locais se juntaram aos profissionais de saúde. Eles formaram um cordão humano para abrir passagem na rua e ajudaram a carregar os equipamentos pesados.
Com o sol forte e um calor de mais de trinta graus, a única saída era pela frente do hospital. A equipe olhou para o outro lado da rua e viu a salvação em um shopping popular. Por sorte, o local estava aberto.
As lojas do shopping viraram UTIs improvisadas. Anderson Sousa, dono de loja, conta que "não teve esse tempo pra pensar". Só suas quatro lojas de bijuterias acolheram 22 incubadoras. Donos de lojas de celular, como Orestes Monteiro, tiveram que remover móveis pesados às pressas para dar lugar a quatro incubadoras.
A maior preocupação era ligar os equipamentos para manter a temperatura e as medicações dos bebês. Civis corriam atrás de extensões e voltaram ao hospital para carregar cilindros pesados de oxigênio.
Em meio ao resgate, pais procuravam desesperados por seus filhos. Francisco Lisboa relatou o desespero de procurar o bebê Abner e a esposa, Bruna. “Eu passo na frente da minha esposa, nem eu vi ela, nem ela me viu”. Eles não sabiam, mas Abner estava seguro na loja de Orestes, salvo por uma tomada emprestada.
A mobilização coletiva deu certo. Assim que os bombeiros controlaram as chamas, todos os 117 bebês e 153 mães e gestantes foram transferidos em segurança para oito hospitais públicos da capital. Segundo o relato, todos estavam seguros e sem ferimentos. As autoridades investigam as causas do incêndio e o hospital está fechado por tempo indeterminado.
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