Fã de Niemeyer, carioca por adoção e nascido em Burkina Faso: conheça Francis Kéré, arquiteto que assina Biblioteca dos Saberes
22/11/2025
(Foto: Reprodução) Biblioteca dos Saberes faz parte do projeto Praça Onze Maravilha
O arquiteto Diébédo Francis Kéré, de 60 anos, um dos mais premiados do mundo, é o autor do projeto da Biblioteca dos Saberes, parte da iniciativa da Praça Onze Maravilha. Com uma história em que usa referências locais para melhorar a vida de populações ao redor do mundo, o burkinabè [como o povo de Burkina Faso se refere a si] disse que se considera carioca por adoção.
“Eu tive a mesma conexão em espírito e em ações com o povo do Rio”, disse o arquiteto no lançamento do projeto, na quinta-feira (20).
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Kéré é o 1º africano a conquistar o Pritzker, prêmio considerado o “Nobel da Arquitetura”. Nascido em Gando, uma vila de Burkina Faso, Kéré contou que o desejo de ser arquiteto surgiu a partir de um problema na infância: ele sofria com o calor na escola e passou a querer construir lugares melhores para as outras crianças.
“Eu nasci aqui [apontando para a vila onde nasceu em Burkina Faso]. Não tinha muitas oportunidades e tive chance de ter uma educação melhor. Eu fui para a Alemanha e achei que poderia criar algo para meu povo”, contou Kéré.
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Francis Kéré nasceu em Burkina Faso e é o autor do projeto da Biblioteca dos Saberes
Reprodução/ TV Globo
O pai de Kéré era o chefe da vila onde a família vivia. Ele não sabia escrever, mas queria que o filho mais velho aprendesse.
“Meu pai recebia cartas do governo e não tinha ninguém para ler. Então, em vez de me deixar trabalhando no campo, ele me mandou para a cidade para aprender a ler e escrever”, contou o arquiteto em entrevista ao Fantástico.
Depois, nos anos 1980, ele foi para a Alemanha. Primeiro, fez um curso de carpintaria para, mais tarde, se formar em Arquitetura.
Em 2001, Kéré realizou o sonho de infância. Retornou ao povoado e começou a erguer a escola com a ajuda da comunidade. O projeto conta com materiais da região e usa a iluminação natural.
Pritzker
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O investimento em projetos sustentáveis não ficou restrito a Burkina Faso. Ele assinou projetos semelhantes em vários pontos do mundo, que o levaram ao prêmio Pritzker em 2022.
A honraria, considerada uma das mais importantes do mundo, é destinada aos arquitetos que demonstram em seus trabalhos a união entre talento, visão e comprometimento com o meio onde vivem.
Desde 1979, quando foi criado, 2 arquitetos brasileiros já conquistaram o Pritzker: Oscar Niemeyer, em 1988, e Paulo Mendes da Rocha, em 2006.
Francis Kéré é o autor do projeto da Biblioteca dos Saberes.
Reprodução/ TV Globo
A arquitetura de Niemeyer, inclusive, é uma das referências de Francis Kéré. Ele destacou que é uma honra ter a chance de assinar o projeto de uma biblioteca próxima a uma das mais famosas obras dele.
“A arquitetura brasileira é inspiradora e eu admiro Niemeyer. E tenho a chance de criar um projeto próximo ao Sambódromo, criado por ele. Para mim, é uma grande honra”, destacou.
Biblioteca
Como ficará o projeto da Biblioteca dos Saberes
Divulgação/ Prefeitura do Rio
Com mais de 40 mil m², o edifício da Biblioteca dos Saberes terá pilotis, cobogós, jardins suspensos e uma torre circular aberta à luz natural. O espaço contará com teatro, anfiteatro, cozinhas, salas de estudo, áreas expositivas e acervos voltados à memória, patrimônio e expressões populares.
O espaço será instalado na região onde funciona o Terreirão do Samba, perto do monumento a Zumbi dos Palmares e integrado às iniciativas da região da Pequena África.
O anúncio do projeto da biblioteca acontece no ano que o Rio de Janeiro é a Capital Mundial do Livro pela Unesco. A iniciativa tem como objetivo incentivar a leitura.
Kéré esteve pela primeira vez no Rio em maio. Ele percorreu lugares que refletem a cultura do Rio e do Brasil: viu o manto tupinambá, no Museu Nacional de Belas Artes, caminhou pelo jardim de Roberto Burle Marx, conheceu o Edifício Capanema — ícone do modernismo brasileiro —, e esteve na Pedra do Sal com Teresa Cristina e a velha guarda da Portela.
O arquiteto também se encontrou com a escritora Conceição Evaristo, que discursou no lançamento do projeto, na quadra da Estácio de Sá.
“Que venha a biblioteca, onde a movimentação seja humana, abarcando a pluralidade da nossa cidade. Que o morro desça, que a população busque o que lhe pertence como direito cidadão: livros e arte, livros e democracia, livros vivos, livros e humano”, afirmou a escritora.
Projeção de como ficará a Biblioteca dos Saberes
Divulgação/ Prefeitura do Rio